Duas entrevistas didáticas sobre mídia & cultura

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De onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui? Essas são perguntas comuns a todo tipo de pessoa, de toda e qualquer demografia e intenção, mas o povo da área de mídia & cultura vem se escabelando de uma forma muito particular. A tecnologia digital mexeu com os formatos de produção, consumo e comercialização, já sabemos disso, mas são poucos os que tem descoberto respostas razoáveis e práticas pra colocar seu trabalho na rua e manter algum tipo de relevância econômica e cultural. Dois bons exemplos do mainstream ocidental, que trago aqui, são o Louie CK e o Shane Smith.

O Louie CK, acredito que os meus leitores saibam, é o humorista americano que tem conseguido levar alguns aspectos alternativos da linguagem e da história do stand-up para o mainstream. Mais do que isso, nos últimos anos ele vem fazendo experiências comerciais com seu trabalho, vendendo downloads de audio e vídeo de seus shows direto no próprio site e bancando turnês próprias sem depender de redes de casas noturnas ou de venda de ingressos. Nessa entrevista, longa e muito bacana, a gente fica sabendo um pouco mais do que está por trás dessa atitude e tem algumas pistas sobre por que o esquema do Louie CK está funcionando. Basicamente, parece que é a combinação dele ter sido sempre um cara furungador (no início da carreira trabalhou como diretor técnico de uma TV a cabo) com uma ética artística bastante singular (quem editou a terceira temporada do seu seriado Louie foi Susan Morse, que trabalhou com Woody Allen e fez a edição de Warriors, Selvagens da Noite). De brinde, a entrevista ainda tem uma historinha sobre como ele pegou o papel no filme mais recente do Woody Allen.

Shane-Smith

Já o Shane Smith é um dos fundadores da revista Vice, publicação originalmente canadense que começou surfando nas primeiras marolas do que viria a ser o tsunami de ironia hipster e hoje ambiciona “construir a próxima CNN”, segundo palavras do próprio em uma reveladora entrevista para o Guardian. Reveladora não porque ele ou a estratégia do conglomerado Vice (que inclui até uma agência de propaganda) seja misteriosa ou muito underground, mas porque, de novo, temos uma visão interessante sobre COMO alguém fez uma mudança de rumos acertada em um mercado que tropeça cegamente nas próprias pernas. Segundo Shane, “20 anos atrás nós éramos a bíblia hipster e toda essa bobagem, então nós nos tornamos online e nos reinventamos. (…) Nós deixamos nossos melhores editores irem embora e entregamos tudo pra garotos que recém tinham saído do colégio. Isso nos permitiu ser a plataforma da geração Y. Levou 10 anos pra vender um milhão de cópias da revista e demorou apenas um ano pra chegarmos a 10 milhões de usuários únicos do site por mês.” Claro que nem tudo são números na vida, mas a trajetória da Vice também tem algumas lições interessantes sobre o estabelecimento de novas maneiras como a mídia “semi-mainstream” está se organizando. Leitura, digamos, obrigatória.

As duas entrevistas são um pouco extensas, então salve os links e reserve um tempo pra ler que vale a pena.

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Foto do Louie Ck: David Shankbone.

Foto do Shame Smith: Bjarne Jonasson.